Basta de <i>duques</i>!

Manuel Gouveia

Fosse o mundo como o ina­cre­di­tável pre­si­dente do ISEG, João Duque, e as três mai­ores com­pa­nhias aé­reas do con­ti­nente es­ta­riam à venda por três euros.

Para quem não se re­corda, este foi o homem que en­sinou a Passos Co­elho que a TAP, porque dá pre­juízo, deve ser ven­dida por um euro. Ora os pre­juízos de Luf­tansa, Air France/​KLM e Bri­tish/​Ibéria no pri­meiro se­mestre de 2012 atingem os 979 mi­lhões. Mas en­quanto os 112 mi­lhões de pre­juízos da TAP eram em­po­lados na co­mu­ni­cação so­cial, as breves notas em jor­nais eco­nó­micos re­fe­rentes às ou­tras três vi­nham acom­pa­nhadas de con­ve­ni­ente ex­pli­cação – au­mentos es­pe­cu­la­tivos dos com­bus­tí­veis su­pe­ri­ores a 20% e a sa­zo­ni­bi­li­dade que faz do pri­meiro um pior se­mestre na avi­ação que o se­gundo.

O quadro me­diá­tico da TAP está ha­bil­mente mon­tado. Para a mai­oria trata-se de uma em­presa que só dá pre­juízos e é ex­ce­len­te­mente ge­rida por Fer­nando Pinto. Nem uma coisa nem outra são ver­dade, mas para re­forçar esta con­vicção lá veio o ve­neno de que estes pre­juízos se devem «às greves», ou seja, são culpa dos tra­ba­lha­dores.

Mas as contas da TAP que foram a des­culpa para montar esta ope­ração contêm a in­for­mação que a des­monta. Em pri­meiro lugar, in­formam que a TAP vendeu mais 9,4% do que em 2011, ul­tra­pas­sando os mil mi­lhões de vendas neste se­mestre, re­for­çando a sua po­sição como pri­meiro ex­por­tador na­ci­onal. E que o fez gas­tando menos 1,4% em des­pesas com o pes­soal – ou seja, au­men­tando a ex­plo­ração dos seus tra­ba­lha­dores. In­formam ainda que a dí­vida re­mu­ne­rada é quase um terço do no­ti­ciado (0,5 e não 1,3 mil mi­lhões), e que só existe essa dí­vida de­vido a uma ne­go­ciata que PS e PSD nunca ex­pli­caram em torno da compra da ma­nu­tenção da VARIG (mas onde en­ter­raram cen­tenas de mi­lhões de euros), de­vido às pri­va­ti­za­ções da SPDH e de­vido à po­lí­tica eu­ro­peia de pro­moção da con­cen­tração mo­no­po­lista que im­pede o Es­tado, desde 1997, de de­volver à TAP uma parte dos 200 mi­lhões que dela re­cebe por ano só no IRS e na Se­gu­rança So­cial.

Não é pre­ciso ser um Ás para per­ceber que uma em­presa es­tra­té­gica desta im­por­tância não dá pre­juízo e não se pri­va­tiza, luta-se para a de­fender e va­lo­rizar! Mas no Go­verno só nos saem du­ques!



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